VEM NÃO VAI

Se fosse somente as noites
Mas tem também os dias
É sol, é lua, são nuvens
Se vai, alguma hora volta
Se partiu, espere a vinda

Se as ruas confundem
Melhor andar por avenidas

ISSO ASSIM

Isso faz a gente acordar assim abraçar travesseiro recitar um poema  sorrir pro espelho banhar-se gelado sentir-se inteiro a gente assim se encontra brincando andando na rua o pandeiro é o volante imitando os pássaros com passos sem rastros sem nada sem onde sem meio: inteiro.

TEIMOSIA

teimosia do errado
teimosia quem sabe um dia
teimosia do esperar sentado
língua do sapo
mosquito parado
pipa enrolada no fio
teimosia da linha ocupada
teimosia na data marcada
da bala ao alvo
saber antes do sábio

teimosia do pensar em nada
teimosia do crescer
descer do ninho
sapato após o passo
teimosia do descalço
teimosia do descaso ao fato
teimosia da frequência decantada em
versos | rimas | pingos raros
teimosia: | POESIA

MOMENTOS INVERTEBRADOS

Outra formiga traceja meu braço

Farto pasto para seu minúsculo passo

Cega se não fosse o olfato

Minha vida caminha ao seu lado

ERA UMA PORRA

Esse poema era uma porra
Saiu rápido
Escorreu pelo branco da página
Liberou algumas palavras
Deixou algumas letras
Fecundou versos sem métrica
Apenas uma estrofe foi escrita
Talvez algumas rimas
Pobres ou ricas
De amor a dor
De silêncio a prudente
Se era uma porra
Agora tem vida
Pode ser lido
Pois foi escrito

ESTILHAÇOS DE MIM

sei que meu lado esquerdo
ficará em frangalhos
estilhaços de mim
espalhados no espaço
mas assim eu vou
e mesmo antes do fim
olho para o lado
tiro os sapatos
assim calmo
descalço
pronto e não salvo
acerte o alvo
me faça o avesso
e ainda assim escrevo
um verso para meu ultimo
pedaço

ESPELHO

vejo os outros todos
e não preciso de espelho
minha face, barba, dentes, espinhas
apenas nele vejo
mas por que mesmo tão perto
ninguém se vê por inteiro?

MARGENS

eu pensei que tinha acabado mas volta tudo quando não se espera é a onda feita de uma pedra lançada ao lago calado afunda aquieta-se mas logo mais volta para respirar e traz consigo lembranças que começam discretas e se tornam displiscentes até que como milagre morrem sob nossos pés

FOLHA EM BRANCO

A folha em branco
muda espera
o suor da tinta
para molhar seus poros:
pingo de vida

O tempo passa
encharcada em versos
suspirando rimas

se vê amassada

solta

sem despedidas

mas não se lamenta

se o vento a levar

POR QUE?

Escrevo para manter a sobriedade entre copos, fantasmas, tulipas e sorrisos.

CRIADO MUDO

Queria assim a minha solitude
que coubesse no peito
sem muito enfeite ou adorno
talvez uma função
criado mudo no lado esquerdo
com pequenas gavetas
para poucas lembranças

LINHAS SOLTAS PARA MINHA PRINCESINHA

o mundo é uma bola pra você
bola leve que jogamos um no outro
que rimos a toa quando acerta o nariz
que pedimos desculpas quando pula o muro
que somos crianças nos cantos da sala
e adultos nos corredores
você me faz rir de um mosquito sem graça
de uma poça d´água que pisamos descalços
de um fim de semana chuvoso em casa
de um filme sessão da tarde

SONETO PARA MINHA PRINCESA

um toque que seja sem intenção me brilha
me acende o veraneio e abro o céu
as sombras se deitam e alçam os pássaros

com só um toque me inquieto
se te vejo fico alegre
um coral me acorda e sem palco eu canto
concorro com o lótus que o brejo encanta
me sinto pequeno, inseguro e ingênuo
você me faz tantos laços e ainda mais com abraço
me derreto inteiro, de gelo até gotas

ja sentiu o orvalho nos pés em manhã fria?
por você me desfaço, me corto inteiro
me jogo no asfalto
assalto um posto de gasolina

e mesmo se rico seu pobre pai mendiga
sentado na calçada, eu lhe estico os braços
só quero um abraço. um momento. um sorriso
se pedi demais somente olhe para mim
deseje boa sorte e nesse instante entendo
que mesmo com o tempo
meu amor não tem fim

LUZ E SOMBRA

luz e sombra decidiram se encontrar a beira do abismo a meia luz mas a meio palmo de selar um beijo o que estava claro tornou-se turvo e o escuro meio apagado correu pra longe de tudo.

A sombra se esconde do sol pois tem medo das coisas claras.

SÓSEVÊ

um ponto apenas
antes o que fomos
sem saber saltou
.................
criou uma linha
e sem rumo curvou
.................
agora só vê o próprio umbigo:
viramos um ponto de interrogação

NÃO SABER

Antes a lua do não saber a um céu de conforto.

3 MACACOS

dê ao mudo
uma faca cega
para cortar o pulso
inundar o mundo
incomodar o surdo
com seu seco grito
berro sussuro gemido
qualquer coisa leve
que se escute longe
perto breve e certo
sujo seco ou limpo
qualquer um que veja
qualquer um que sinta
o que todos almejam
mas que ninguém consegue
.
.
.
.
apenas sinta

SEMPRE FALTA UM POUCO DISSO

| Sempre falta um pouco disso quem sabe o que pode ser | quem sabe onde encontrar um pote | um tesouro que transborde o copo |todo o corpo e alma | procuramos e nunca vemos o arco-iris| chuva rala e o sol fraco escondem o paraíso |onde se acha a tampa disso? | quem sabe o ouro ilumine a gente | quem sabe o sopro nos leve para longe | mas sempre falta um pouco para chegar | onde não se sabe | onde não se quer | onde toda falta é bem-vinda | onde tudo é sobra | onde o nada se esconde |

CRENÇAS?

Crenças criam viciados. Nunca em algum lugar criou um sábio. Aquele que sabe a verdade se cala. O restante fala. A vida é tão rara. Poucos chegam ao topo da montanha, onde as nuvens passam e deixam o cume intacto. Lá embaixo são criados templos, igrejas, mosteiros, cadeados... Para que subir ao topo se na base tudo é fácil?
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Dia qualquer, sentir apenas a sombra da montanha se torna insuportável.